Consciência
é
o
tema
da
quinta
edição.
Do
que
vale
a
pena
ter
consciência?
E
quando
faz
sentido
perguntar
sobre
utilidades
de
estar
consciente
de
algo?
Dar-se
conta,
por
exemplo,
das
próprias
emoções
e
da
relação
destas
com
sensações
e
pensamentos
pode
ser
útil
para
alguém
sofrer
menos,
tal
como
podem
confirmar
pessoas
muito
habituadas
a
meditar
de
modo
satisfatório
para
si.
Sofrer
menos,
por
exemplo
sob
estresse,
remorso
ou
medo,
aumenta
as
chances
de
reconhecer
ativamente
oportunidades
para
fortalecer
a
capacidade
de
viver
bem
o
presente.
Isso
inclui
ter
certos
momentos
tranquilos
não
apenas
para
lembrar
as
dores
que,
embora
passadas,
são
fontes
potenciais
de
sabedoria,
mas
também
para
imaginar
caminhos
concretamente
possíveis
a
trilhar
rumo
à
pessoa
que
se
deseja
ser.
O
futuro
e
o
passado
não
precisam
roubar
a
vida
no
presente,
se
esta
for
o
foco,
com
as
suas
sensações.
Notar
que
certos
comportamentos
se
baseiam
em
preconceitos
e
dogmas
pode
ser
o
início
de
um
processo
de
libertação
coletiva.
Como
posso
ser
livre
se
o
outro
também
o
pode?
Do
que
se
pode
desejar
libertar-se?
Como
derrotar
em
nós
a
inclinação
a
oprimir
o
diferente
sem
oprimir
o
diferente?
Se
o
diferente
o
é
em
função
de
etnia,
nacionalidade,
área
geográfica
de
residência,
história
cultural,
profissão,
área
de
estudo,
sistema
presente
de
crenças,
perfil
cognitivo-emocional,
sexo
biológico,
orientação
sexual,
autoimagem
ou
outra
das
inúmeras,
talvez
infinitas,
maneiras
de
cada
humano
ser
valiosamente
único,
então
precisamos
reconhecer
em
nós,
individual
e
coletivamente,
a
violência
humana
que
nos
persegue
desde
pelo
menos
a
época
da
escassez
e
do
estresse
constantes
da
perigosa
savana
africana.
Como
respeitar
a
nossa
multiplicidade
sem
esquecer
a
unidade
latente?
Como
respeitar
a
unidade
latente
sem
esquecer
a
nossa
multiplicidade?
Se
a
nossa
selvageria
estiver
muito
ligada
a
algum
hábito
ou
gosto
muito
difundidos,
talvez
valha
a
pena
combater
até
mesmo
um
gênero
musical
ou
uma
diretriz
empresarial
jornalística
ou
uma
religião
institucionalizada,
mas
sempre
buscando
maneiras
estratégicas,
coerentes
e
não
opressoras.
Se
cada
pessoa
se
refere
a
si
como
um
eu,
então
eu
sou
você
numa
perspectiva
compartilhada,
assim
como
você
é
eu.
O
que
somos
em
comum
abrange
a
sutil
habilidade,
a
ser
treinada
sempre,
de
perceber
no
outro
um
eu,
mesmo
ao
sermos
atacados.
O
que
fazer
com
certas
liberdades?
Dos
caminhos
sem
destino
conhecido,
codificados
nessas
rápidas
perguntas,
não
vale
a
pena
estar
ciente?
Em
que
medida
tal
estado
de
espírito
é
útil?
Também
conscientizar-se
de
informações
em
torno
não
dos
conteúdos,
mas
da
própria
capacidade
e
do
processo
de
ter
experiências
relativamente
conscientes
tem
um
potencial
significativo
para,
por
exemplo,
humanos
aprenderem
a
ser
mais
felizes
com
os
demais
e
com
o
restante
da
natureza.
O
poder
decorre
do
fato
de
tal
consciência
reflexiva
tornar
mais
fácil
reconhecer
não
só
problemas
antigos,
mas
também
as
velhas
e
infelizes
reações
automáticas
às
emoções
por
eles
incitadas.
O
que
está
subconsciente
condiciona
comportamentos,
pensamentos,
emoções
e
sensações.
O
que
está
subconsciente
para
você,
para
mim,
para
outros
indivíduos?
E
para
grupos
de
pessoas,
por
exemplo
organizadas
institucionalmente
para
controlar
as
relações
de
poder
material
e
informacional?
Será
que
as
informações
subconscientes
estão
apenas
ou
sobretudo
em
cérebros?
Seja
como
for,
o
acesso
humano
a
elas,
necessariamente
parcial,
é
indireto
e
requer
humildade
e
paciência.
Estados
cotidianos
de
consciência,
focados
em
objetivos
imediatos
no
espaço-tempo
ou
em
multiplicação
ou
potenciação
de
riqueza
material
e
institucional,
têm
baixas
chances
de
lançar
luz
sobre
mistérios
do
universo
humano.
Como
então
alterar
a
consciência
individual
de
maneira
segura
para
a
saúde
e
felicidade
próprias
e
alheias?
Equipes
altamente
integradas
de
pessoas
no
papel
de
psicólogas,
psiquiatras
e
xamãs
poderiam
oferecer
um
dos
tipos
de
solução.
Além
do
que
pode,
dadas
certas
condições
especiais,
tornar-se
menos
subconsciente,
quais
processos
da
natureza
são
necessariamente
não
conscientes
para
pessoas
terráqueas
de
hoje?
Incluirão
talvez
a
causa
de
as
constantes
em
equações
que
codificam
alguns
aspectos
regulares
do
nosso
universo
terem
justamente
os
valores
perfeitos
para
o
funcionamento
de
tudo
o
que
podemos
observar
com
os
nossos
corpos
e
ferramentas?
Nesse
contexto
de
relação
consigo
mesma,
caso
a
pessoa
se
volte,
em
momentos
mais
intelectuais,
para
a
correlação
entre
experiências
subjetivas
e
atividades
cerebrais,
pode
indagar
se
tal
paralelismo
indica,
por
exemplo,
se
o
sistema
nervoso
é
que
gera
os
processos
fenomênicos
em
geral
ou
se
estes,
tal
como
no
caso
particular
das
sensações
superficiais,
resultam
da
captação
e
processamento
de
fontes
energéticas
de
informação
que
bombardeiam
os
nossos
corpos.
Como
investigar
a
relação
experiência-cérebro
cientificamente
de
modo
harmônico
com
experiências
não
científicas?
Um
caminho
focado
mais
nos
conceitos
e
nas
aplicações
econômicas
seguido
por
muitos
tem
sido
reduzir
teoricamente
a
realidade
à
matéria,
esquecendo
inclusive
que
ela
é
um
mero
estado
temporário
de
energia.
O
pretexto
é,
de
um
lado,
tornar
mais
viáveis
os
experimentos
e
medições,
com
possíveis
usos
tecnológicos,
inclusive
na
medicina;
de
outro
lado,
é
jamais
se
arriscar
na
busca
de
explicações
para
as
quais
não
há,
no
presente,
métodos
bastante
consagrados
por
pelo
menos
alguns
grupos
institucionais
de
pesquisadores
científicos.
Ora,
basear-se
em
tal
pretexto
duplo
para
não
manter
a
mente
aberta
e
livre
pode
fechar
caminhos
não
apenas
conceituais
e
tecnológicos
derivados,
mas
também
intuitivos,
sensoriais
e,
talvez,
espirituais,
sem
necessariamente
entender
espírito
como
algo
sobrenatural.
Nem
tudo
é
material,
pois
há
tanto
o
energético
pouco
denso
presente
em
campos
e
ondas,
quanto
o
informacional.
Ou
alguém
acredita
que
são
materiais
os
padrões
meticulosamente
planejados
de
distribuição
codificada
de
energia
em
aparelhos
eletrônicos?
Se
não,
há
esperança
para
alguns
de
nós
despertarem
e
deixarem
de
ver
contradição
entre
fazer
ciência
e
reconhecer
a
realidade
não
científica
de
experiências
de
consciência
elevada.
Aliás,
há
quem
defenda
ser
a
consciência
humana
em
geral
uma
ilusão.
Como
dizer
isso
sem
estar
humanamente
consciente?
Há
quem
diga
que
humanos
podem
ser
só
zumbis
cujo
comportamento
parece
consciente!
Há
quem
não
sabe
que
palavras
são
apenas
ferramentas
para
apontarmos
para
somente
alguns
aspectos
fragmentários
de
dois
tipos
de
coisas:
quer
experiências
vividas,
lembradas
e
imaginadas,
quer
estruturas
de
informação
oportunamente
disponíveis.
Embora
a
informação
se
instancie
na
matéria,
ambas
as
coisas
não
se
confundem.
Do
que
vale
a
pena
ter
consciência?
E
quando
faz
sentido
perguntar
sobre
utilidades
de
estar
consciente
de
algo?
De
todos
os
cinco
temas
centrais
da
revista
cultural
multimídia
do
ICA,
apenas
o
primeiro
–
movimento
–
foi
decidido
pela
equipe
de
concepção
e
de
execução
inicial
do
projeto.
Este,
baseado
em
uma
ideia
de
Daniela
Dumaresq,
professora
do
curso
de
Cinema
e
Audiovisual,
teve
a
coordenação
compartilhada
entre
ela
e
dois
produtores
culturais
do
ICA:
Henrique
Rocha
e
Tobias
Gaede.
O
nome
do
periódico
faz
referência
à
palavra
inglesa
‘movies’
['mu:viz]
e
ao
curso
do
ICA
ao
qual
é
ligada
a
docente.
O
primeiro
processo
editorial
não
pôde
ser
concluído
na
época,
entre
2017
e
2019,
e
a
programação
do
website
também
não,
tudo
isso
devido
em
grande
parte
à
ausência
de
uma
equipe
exclusiva
dedicada
várias
horas
por
semana
a
todas
as
múltiplas
tarefas.
Até
meados
de
2021,
o
projeto
ficou
suspenso.
A
chegada
do
editor
em
2021
resolveu
o
problema
do
website
e
do
primeiro
processo
editorial.
Coube
a
ele
definir
e
implementar
a
estrutura
definitiva
de
páginas,
pastas
e
seções
da
revista.
A
contribuição
de
Lucas
Campos,
naquele
momento,
foi
fundamental
para
complementar
as
habilidades
básicas
de
programação
web
do
editor.
Sempre
com
capas
de
Tobias
Gaede
que
refletem
os
temas,
as
cinco
edições
da
MOV
são
as
seguintes:
Movimento,
Transformação,
Variedade,
Reconstrução
e
Consciência.
Aquele
mesmo
profissional,
até
o
quarto
número
(Reconstrução),
criou
também
para
cada
trabalho
uma
capa.
Com
a
publicação
do
número
atual,
o
editor
se
afasta
da
MOV
para
dedicar-se
à
pesquisa
filosófica
e
a
um
programa
institucional
de
criação
própria:
o
Laboratório
de
Suporte
Linguístico
do
ICA.
Independentemente
disso,
a
revista
cultural
multimídia
permanecerá
no
ar,
ainda
que
sem
novas
edições,
pelo
menos
não
sob
responsabilidade
da
mesma
pessoa.
O
novo
e
provavelmente
último
número
já
pode
ser
apreciado.
O
editor
se
despede
não
somente
com
novo
design
e
com
editorial
mais
denso
na
parte
inicial,
mas
também
com
um
conto
de
autoria
sua
que
faz
referência
a
sonhos
e
ao
poder
de
humanos
se
destruírem
sem
perceber.
Foi
publicado
originalmente
em
um
livro
que
une
textos
premiados
em
2020
em
um
concurso
literário
realizado
pela
Progep
e
pela
Procult
(antiga
Secult).
Dentre
os
oito
trabalhos
inscritos
e
selecionados
para
a
MOV
nº
5,
metade
privilegiou
de
forma
explícita
o
tema
da
edição,
não
obrigatório
desde
o
número
anterior.
A
análise
fílmica
intitulada
"CLÍMAX
(2018)
E
A
REPRESENTAÇÃO
DE
ESTADOS
ALTERADOS
DE
CONSCIÊNCIA
NO
CINEMA",
de
Laura
Cavaignac,
conduz
o
leitor
na
exploração
de
experiências
não
cotidianas
de
personagens
de
uma
obra
de
Gaspar
Noé.
O
vídeo
de
360°
"O
HOMEM
DA
AREIA
–
UMA
PERSPECTIVA
IMERSIVA
DO
CONTO
DE
E.T.A.
HOFFMANN",
de
Mateus
Falcão
e
Mariah
Soares
Duarte,
joga
com
sensações
de
visão
e
audição
que
podem
ajudar
a
pensar
sobre
solidão
e
loucura.
A
crônica
"REBOLANDO",
de
Isadora
Marques,
trata
de
consciência
corporal
e
da
autoimagem
da
autora
como
mulher
negra.
Outro
material
sobre
consciência
corporal
é
"ABSTINÊNCIA
DE
CONSCIÊNCIA",
um
poema
em
prosa
de
Sindy
Késsia,
uma
das
pessoas
autoras
mais
assíduas
da
MOV.
Os
quatro
outros
trabalhos
são
o
ensaio
fotográfico
"TROPICALIDADE
BOÊMIA:
EDITORIAL
FOTOGRÁFICO
QUE
CELEBRA
AS
MARCAS
DE
MODA
CEARENSE"
(João
Santos)
e
os
seguintes
três
textos:
"A
REPRESENTAÇÃO
DE
MULHERES
LATINAS
NO
AUDIOVISUAL
ESTADUNIDENSE:
O
CASO
ADRIAN
LEE"
(Fernanda
Filiú),
"NOITES
EM
CLARO
EVIDENCIA
POTÊNCIA
DO
CINEMA
DE
PERIFERIA"
(Júlia
Vasconcelos)
e
"NAS
ENTRELINHAS
DO
PASSEIO"
(Maria
Fernanda).