A REPRESENTAÇÃO DE MULHERES LATINAS NO AUDIOVISUAL ESTADUNIDENSE: O CASO ADRIAN LEE
Fernanda Filiú
Estudante do Curso de Jornalismo do ICA e bolsista da PROINTER. Ex-bolsista do Programa de Educação Tutorial dos Cursos de Comunicação Social e da Secretaria de Acessibilidade (UFC-Inclui). Participa como coordenadora do “Neomarsha”, projeto de extensão do Curso de Jornalismo da UFC voltado à comunicação que admira e respeita a diversidade. E-mail: fernandafiliuxx@gmail.com
Rafael Rodrigues
Orientador do trabalho e professor do Curso de Jornalismo da UFC. E-mail: rafaelrg@ufc.br
INTRODUÇÃO
O audiovisual é uma importante ferramenta de compreensão e reprodução da sociedade. A partir dele, é possível entender as culturas, influenciar e ser influenciado. A combinação da imagem e do som proporciona uma conexão entre o mundo real e o fictício através da representação de identidades, lugares e valores socioculturais. Assim, a mídia tem a capacidade de modelar o ideário social por meio das suas produções, e a imagem possui um papel fundamental no quesito influência.
O cinema estadunidense é a maior referência do audiovisual. As suas produções e oficinas equipadas com aparelhos de última geração, bem como a grandiosidade das suas produções fizeram aquela indústria se tornar a mais influente no contexto global. É necessário lembrar que o cinema é um aparato social de manutenção e perpetuação de moralidades. A maneira como uma obra audiovisual é pautada, escrita e produzida pode influir diretamente na consolidação de ideais e opiniões nos seus telespectadores.
Além disso, a sétima arte tem o potencial de ser um instrumento de monopolização cultural, de dominação política e social para grupos já no poder. O enquadramento de uma realidade dentro do audiovisual depende diretamente de quem está por trás das câmeras. O que deve ou não aparecer no filme, bem como a maneira de fazer a narração e de apresentar os personagens são escolhas voltadas para construir um ponto de vista. O cinema não é isento de propósitos e muito menos de convicções.
Seguindo esse contexto e hipótese, este trabalho tem como objetivo analisar como o audiovisual estadunidense retrata mulheres latinas nas suas produções por meio da esteriotipação e hiperssexualização. A partir dessas considerações, tomou-se como caso de análise a construção da personagem latina Adrian Lee da série A vida secreta de uma adolescente americana, da rede de televisão ABC Family. A metodologia consistiu no estudo de livros, artigos e teses voltados à temática.
1. A IMAGEM COMO FERRAMENTA DE REPRESENTAÇÃO
A construção das produções audiovisuais e da imagem das próprias personagens é rodeada de composições sociais pré-estabelecidas. A escolha do que destacar na cena, a angulação da câmera e até mesmo o figurino dos atores e atrizes influenciam a recepção dos telespectadores. Para Jacob (2006), o vestir não se relaciona somente com o desejo de “ser belo”, visto que as ilustrações possuem o poder de produzir novos valores através da maneira como são apresentadas ao público.
A montagem pictórica baseada nas roupas e no comportamento das personagens forma um sistema de representação. Este, além de ser uma manifestação sociocultural, se torna um meio de exprimir a identidade e a relação do indivíduo com o meio (DE VARGAS, 2014). Porém, essa “indústria representativa” é carregada de estereotipação e preconceitos, voltados para os ideais socioculturais dos produtores e financiadores das obras. Como afirma Sabino, David-Silva e Pádua (2016, p. 69), “[n]ão há neutralidade na imagem que nos é posta pelo canal televisivo, ela é forte o suficiente para construir e agregar novos significados, juntamente com a linguagem verbal discursiva”. Tal fato, quando colocado no cenário da representação de mulheres latinas no audiovisual, nos comprova o forte papel desempenhado pelo cinema estadunidense na transmissão de valores e conceitos sobre os grupos que ele domina.
Primeiramente é importante ressaltar que, nos Estados Unidos, a comunidade latina é composta por pessoas originárias de países latino-americanos e hispânicos, além daqueles que possuem somente ascendência ou raízes desses locais. A criação identitária de mulheres latinas na indústria cinematográfica daquele país, a qual eles chamam de representatividade, se dá a partir dos estereótipos já existentes no contexto citado. Mulheres latinas são vistas como sexy, corpulentas e flertantes. Tais concepções, historicamente consolidadas no ideário social, se expandem para as telas, auxiliando na manutenção da representação estigmatizada, da objetificação e da hiperssexualização desse grupo.
O termo ‘hiperssexualização’ se refere ao modo como o corpo é exposto em diversas mídias visando objetificá-lo sexualmente. Esse modelo distorcido de representação se manifesta em muitas produções do cinema estadunidense, principalmente quando nos referimos ao corpo de mulheres latinas. A série teen A vida secreta de uma adolescente americana, uma das mais famosas e influentes dos anos 2000, retrata a sua única personagem com ascendência latina, Adrian Lee Enriquez, como um símbolo sexual. A produção seriada da ABC Family se baseia nas relações entre famílias e amigos e na maneira como lidam com a gravidez inesperada da personagem principal, Amy Juergens, uma inocente jovem americana. Enquanto Amy e Grace, as mulheres brancas da série, são apresentadas como “boas” garotas, Adrian é retratada como a latina exótica sensual. Com roupas sempre mais vulgares que as das outras mulheres e comportamento flertante, ela se torna uma referência de como latinas são idealizadas socialmente no exterior.
IMAGEM 1. Elenco principal da série
Da esq. para a dir.: Jack, Grace, Ricky, Amy, Ben e Adrian.
Reprodução: G1 Globo.
IMAGEM 2. Adrian Lee Enriquez
Reprodução: Pinterest.
2. O PAPEL DO AUDIOVISUAL ESTADUNIDENSE NA PERPETUAÇÃO DE ESTEREÓTIPOS
O cinema estadunidense é uma das principais fontes de exportação cultural do planeta. Como segundo maior produtor cinematográfico do mundo, perdendo somente para a indústria de língua híndi “Bollywood”, Hollywood ainda possui clara influência na construção de identidades e ideais da sociedade contemporânea. Os Estados Unidos coletam, através de suas produções, cerca de dois terços da sua arrecadação de mercados estrangeiros (SILVA, 2022).
Com o advento da globalização, a consequente diminuição de barreiras geográficas e o aumento da midiatização, a difusão dos valores americanos se tornou cada vez mais presente no corpo social. A Teoria Construtivista das Relações Internacionais entende a realidade como construída socialmente, definindo a sua estrutura, identidades e interesses por meio do compartilhamento de ideias e de forças materiais. Como observou Silva (2022, p. 21):
A identidade refere-se a quem ou o que os atores são[,] e o interesse refere-se ao que os atores querem, designando motivações que explicam o comportamento. Os tipos de identidades implicam interesses, mas não são reduzidos a estes. Interesses pressupõem identidades porque um ator não pode saber o que quer enquanto não souber quem é.
O Construtivismo lança luz sobre o cinema estadunidense e o seu papel na perpetuação de estereótipos de comunidades socialmente excluídas. Tais produções cinematográficas trazem em suas narrativas a realidade dos “outros” a partir da “nossa” (SILVA, 2022) influenciando não somente a construção do seu próprio ideário social, mas o de todos.
Com o surgimento das plataformas de streaming, fundadas em sua maioria nos Estados Unidos, como a Netflix, Amazon Prime e Hulu, a influência audiovisual daquela nação também se formalizou fora das telas do cinema e da televisão. Esse poder, construído com e pelas mídias, faz o americanismo se manter como referência no contexto global. Mantendo o seu poder como exportador de moralidades e culturas, os Estados Unidos continuam a compartilhar os estereótipos criados sobre mulheres latinas na sua sociedade além das suas fronteiras. Novamente, para Silva (2022, p. 38):
Devemos entender como os EUA, buscando manter uma hegemonia cultural global, se utilizam de ferramentas, como o cinema, para construir identidades, ditar tendências internacionais através da propaganda, manipular a indústria cultural e representar o mundo para o mundo de acordo com sua visão, muitas vezes distorcida da realidade e até mascarada através da ‘magia’ [do cinema].
Adrian Lee em A vida secreta de uma adolescente americana é somente um dos vários exemplos da estereotipação e objetificação da mulher latina. Glória Delgado, de Modern Family (Família Moderna), e Santana Lopez, de Glee, são personagens colocadas, assim como Adrian, em uma caixa onde as suas individualidades não cabem e são tratadas diferentemente das mulheres brancas retratadas nas suas respectivas séries (ROMAN, 2000, p. 48, tradução nossa):
A sociedade simplesmente aceita a versão atualmente imposta dos atributos de um grupo com pouca percepção de que eles são falsos. Assim, tais mitos ou metáforas negativas têm um efeito social. Estabelecem uma ordem e uma visão para encaixar indivíduos nos requisitos criados pelos mitos.
O conjunto de características hiperssexualizadas atribuídas àquela comunidade contribui não somente para perpetuar as ideologias colonialistas brancas, mas também para fetichizar e minimizar a cultura, as tradições e a representação do que é, verdadeiramente, ser latina.
3. EPISÓDIO 1: A CONSTRUÇÃO DE ADRIAN COMO MULHER FATAL
Com o fim do romantismo europeu no século XIX, a mulher romântica cede lugar a uma nova identidade na arte: a femme fatale (mulher fatal). O arquétipo fatal, existente no misticismo, como a figura marcante de Lilith na tradição judaico-cristã, e na arte, como nos poemas de Baudelaire e na literatura de horror, nasce nos filmes noir e passa a ser representado nas telas do cinema estadunidense na década de 1930.
Após a I Guerra Mundial, o otimismo não cabia mais nas produções cinematográficas hollywoodianas. As consequências da guerra tanto para o governo, quanto para a sociedade em geral, impactaram também o mundo das artes. Segundo Carvalho (2009), “[a]o longo dos anos Hollywood fica mais escura, os personagens mais corruptos, os temas mais fatalistas e o tom mais desesperado.” A mulher fatal no audiovisual estadunidense seria, então, uma criatura sensual, manipuladora e gananciosa, mas ao mesmo tempo independente, refletindo a realidade que começava a surgir, onde mulheres alcançavam novos papéis sociais, nunca antes assumidos. Como aponta Carvalho (2011, p. 52):
Esta nova imagem da mulher no film noir, a femme fatale, é marcada pela assumpção de uma sexualidade sem remorso. Ela é uma mulher calculista, manipuladora, cruel, e usa a sua atracção e poder sexual para conseguir atingir os seus objectivos, que se relacionam com a sua ganância e luxúria. É um tipo de mulher mais forte e subversiva, procurando liberdade, dinheiro e o prazer. É decidida e sabe o que quer, não se importando com o que tem de fazer para o conseguir.
No primeiro episódio da série A vida secreta de uma garota americana, já é possível identificar a construção da personagem Adrian como mulher sexy, promíscua e fatal, que possui ainda uma característica adicional: a sua juventude. Enquanto o casal cristão Grace e Jack, comprometidos na abstinência sexual, conversam durante o almoço, a personagem latina chega e espera que saiam para se sentar, visto que não havia mais cadeiras vagas. Grace, que já estava de saída, se levanta e cede seu lugar para Adrian, que começa a conversar com Jack.
Adrian admite ter escutado uma parte da conversa do casal que falava sobre a relação e vida sexual deles. Jack não queria mais esperar como Grace, e esse era o tópico principal do diálogo. A problemática dessa cena decorre da construção hiperssexualizada da fala e linguagem corporal da personagem latina ao falar com o rapaz, sendo colocada no posto de mulher fatal. Adrian, ao se sentar no lugar ao lado de Jack, pergunta se ele e sua namorada não transam e, ao receber a resposta não, respira fundo e fala: “interessante”. Em seguida, morde uma maçã de uma forma sensual, olhando diretamente para o jovem. A escolha desse signo visual mobiliza sentidos como o pecado para a religiosidade cristã, conectando a imagem, de fato sugestiva, ao imaginário social já estabelecido.
IMAGEM 3. Adrian em resposta a conversa sobre a vida sexual de Jack e Grace
REPRODUÇÃO: print de tela da referida cena do episódio 1 disponível no aplicativo Vimeo.
Ainda no primeiro episódio, durante a festa de celebração que a igreja de Grace estava promovendo após a vitória do time de futebol americano da escola, Adrian e Jack conversam em um local privado. O menino estava nervoso e, ao perguntar à garota se ela contara a Ricky o que havia acontecido entre eles, explicita aos espectadores o caso que tiveram.
Jack fala que o que fizeram foi um erro e um pecado, confirmando o esperado: ele e Adrian se relacionaram sexualmente. O personagem desesperado pede para que ela reze com ele para Deus os perdoar. Porém, Adrian, em tom provocativo, pergunta se Jack tem certeza se quer que Deus ou ela o ame. Em seguida, a garota o beija.
IMAGEM 4. Adrian e Jack se beijam na festa de celebração da vitória do time
REPRODUÇÃO: print de tela da referida cena do episódio 1 disponível no aplicativo Vimeo.
A mulher fatal tem sido a figura feminina de escrutínio mais intenso e duradouro. Definida pela sua sexualidade, é a mulher mais subversiva. Ela reflecte os desejos transgressivos dos heróis, que a veem como desejada mas perigosa (CARVALHO, 2011, p. 3).
Além da construção imagética voltada para a sensualidade tipicamente vista em personagens latinas, a produção da série coloca Adrian no também comum posto de destruidora de relacionamentos, o que se alinha com a moralidade estadunidense também manifesta na sua visão de negros e outros grupos que não personificam a branquitude “padrão”. Com características atribuídas ao conceito de “femme fatale”, Adrian é interpretada como traiçoeira, visto que seduz e engana Jack, o herói da narrativa.
Vale salientar que, até o início da terceira temporada, Adrian é continuamente retratada como fatal e uma “má influência”. Ilustra isso o relacionamento sexual da personagem com Ben, o então namorado de Amy, em sinal de vingança contra Ricky no episódio quinze da segunda temporada. Agora, além de astuciosa, Adrian também é manipuladora. Entretanto, a partir do meio da temporada seguinte, ela é redirecionada a uma nova identidade: a mulher arrependida, mas não pura.
A personagem só reconhece seus erros e reestabelece novos parâmetros para a sua vida sexual e pessoal com ajuda de Grace, a amiga branca e religiosa que a convence a repensar sua promiscuidade (RUIZ, 2015). A influência de Grace não faz Adrian mudar completamente seu comportamento, mas é possível notar que, novamente, como na colonização, a branquitude é colocada como salvadora da inferior, libertina e depravada comunidade latina.
A partir do contexto em que está inserida como mulher latina, a personagem é hiperssexualidada e estereotipada. Com atitudes já esperadas pelo ideário estadunidense para esse grupo, a série contribui para a manutenção de estereótipos e para a contínua objetificação e desvalorização de latinas no exterior, tanto em produções audiovisuais, quanto na vida real.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O cinema estadunidense, como ferramenta de representação de realidades e identidades, auxilia no contínuo fenômeno da exploração, hiperssexualização e desvalorização do corpo feminino latino em produções audiovisuais. Sendo uma referência cultural global, os Estados Unidos difundem a ideia de objetificação de mulheres latinas além do próprio território.
A série A vida secreta de uma adolescente americana marcou gerações e construiu socialmente percepções sobre a comunidade latina a partir da forma como escolheu representar Adrian Lee. Em filmes com personagens latinas, o padrão estabelecido para interpretá-las ainda se mantém o mesmo: sensuais, fatais e flertantes. Porém, não se deve mais aceitar a simplificação artificial da real complexidade da mulher latina ou de qualquer mulher.
Adrian é desejada sexualmente por todos os personagens masculinos, mas nunca amada por eles. A clara diferença entre a caracterização das mulheres brancas, representadas na série como símbolos de pureza e caráter, e a da jovem latina, um mero objeto sexual, demonstra como a imagem desse grupo é desumanizada e menosprezada no cinema estadunidense. Esse tipo de representação abre portas para o julgamento, o desrespeito e a hiperssexualização dessa comunidade.
A representatividade latina nas mídias, assim como a de outros grupos, é extremamente importante. A partir de obras audiovisuais é possível incluir comunidades historicamente excluídas dos locais de poder, trazendo-lhes pertencimento e identidade. Entretanto, essa ação precisa ser feita da maneira correta e não visivelmente estereotipada e fetichizada como em A vida secreta de uma adolescente americana.
Por fim, é fundamental expressar as manifestações identitárias a partir da realidade do retratado e não do retratador. Respeitando as individualidades e verdades de cada comunidade, em foco a latina, é possível inserir personagens que se tornem, genuinamente, símbolos de representação, saindo do mito da representatividade que cerca o cinema norte-americano desde os seus primórdios.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Débora Sofia Lemos Pinto de. Fatal, cativa e independente: a mulher no film noir. 2011. Tese de Doutorado.
JACOB, Elizabeth Motta. Um lugar para ser visto: a direção de arte e a construção da paisagem no cinema. 170 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação, Imagem e Informação) - Instituto de Artes e Comunicação, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2006.
ROMAN, Ediberto. Who exactly is living la vida loca: The legal and political consequences of Latino-Latina ethnic and racial stereotypes in film and other media. J. Gender Race & Just., v. 4, p. 37, 2000.
RUIZ, Marisol. The Taxonomy of the Latina Body: Adrian Lee in The Secret Life of the American Teenager. Humboldt Journal of Social Relations, v. 37, p. 30-45, 2015.
SABINO, J. L. M. F.; DAVID-SILVA, G.; PÁDUA, F. L. C. O potencial da imagem televisiva na sociedade da cultura audiovisual. Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, São Paulo, v. 39, n. 2, 2016. DOI: 10.1590/rbcc.v39i2.2435.
SILVA, J. G. D. O. A Influência do Cinema nas Relações Internacionais: O “Outro” Sob a Ótica Disney. Portal de Trabalhos Acadêmicos, [S. l.], v. 4, n. 2, 2022. Disponível em: <https://revistas.faculdadedamas.edu.br/index.php/academico/article/view/2238> Acesso em: 8 out. 2022.
FILMOGRAFIA
ABC FAMILY (Temporada 1, ep. 1). A Vida Secreta de Uma Adolescente Americana [Seriado]. Criação: Brenda Hampton. Estados Unidos: Produtora ABC FAMILY, 2008.
ABC FAMILY (Temporada 2, ep.15). A Vida Secreta de Uma Adolescente Americana [Seriado]. Criação: Brenda Hampton. Estados Unidos: Produtora ABC FAMILY, 2008.